O dono de Lobinho procurou o primeiro hospital veterinário público do País que se localiza em São Paulo para tratar o câncer do animal
O vira-lata Lobinho, 9 anos, usa uma fralda enquanto espera, na
calçada, atendimento no único hospital público para animais do País,
localizado no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Seu dono, o vigilante
Clodoaldo Gonçalves, 39 anos, espera que seu bicho de estimação seja recebido. Ele afirma ter madrugado
para tratar do cão que tem um tumor nos testículos, oculto por curativo
colocado após a triagem. A fralda deixa escapar um pouco de sangue. "Tem
três dias que ele está assim, e não come desde ontem", diz.
Com pouco menos de dois meses em funcionamento, a demanda por
procedimentos médicos em animais cujos donos não têm condições de arcar
com as despesas para o tratamento só tem aumentado. Inicialmente a
equipe contava com 28 funcionários, sendo 16 médicos veterinários.
Contudo, para dar conta da forte procura, o hospital está atuando com um
quadro de 25 profissionais da saúde animal e mais 25 funcionários de
serviços gerais. Ainda assim, a espera média para o atendimento na
instituição pode chegar a quatro horas.
No centro cirúrgico do hospital, outro cão de raça não identificada
recebe massagem de veterinários após uma parada cardíaca. Não resistiu. A
impotência diante de casos em que nada mais é possível fazer pelo bicho
emociona. "Tenho 25 anos de formado, marmanjão, corintiano, às vezes
saio num cantinho para chorar", desabafa Renato Tartália, 49 anos,
médico veterinário e diretor administrativo do hospital.
A prefeitura paulista destina um repasse mensal de R$ 600 mil para a
instituição. De acordo com o autor do projeto, o vereador Roberto
Trípoli (PV), como partida, a meta era realizar 100 atendimentos por
dia, contando o retorno de pacientes em tratamento. No entanto, a
procura pelos serviços cirúrgicos, ortopédicos, dermatológicos e
odontológicos foi tão intensa que o vereador já menciona a necessidade
de ampliar o atendimento. "Houve um dia em que, às 3h da manhã, já tinha
gente na fila aguardando pra pegar a senha. O objetivo era fazer mil
atendimentos por mês, mas, do jeito que está, teremos cerca de três mil,
se continuar assim", explica.
Todos os dias, 40 novas fichas de atendimento são abertas
para pessoas que procuram o hospital comprovando baixa renda, por meio
da participação nos programas Bolsa Família e Renda Mínima. Uma
assistente social atesta se o proprietário do animal se enquadra no
público elegível para o tratamento gratuito. Os casos mais comuns são
os atropelamentos: pelo menos cinco por dia.
Já existem projetos para ampliar o espaço destinado à instituição,
além da criação de mais centros como esse em outras regiões da cidade.
Tartália afirma que a inauguração do hospital, há cerca de 50 dias, foi
uma conquista de grupos independentes que tratam dos direitos dos
animais. O profissional acredita, ainda, que não há conflito em um
atendimento público gratuito para os bichos, pois tratar do animal de
estimação é tratar, também, seus donos. "Você percebe que, dando alívio
ao sofrimento de um animal, você cura também o dono", finaliza.