A população de Córdoba, Argentina, está sendo testemunha da fidelidade canina. Há oito meses o cão “Alicio” estava em companhia de seu dono, que chegou em estado grave à Clínica Monte Cristo e morreu. O cachorro, que agora é notícia em todo o país, espera ainda hoje o dono sair pela porta por onde entrou. É alimentado por moradores e voluntários de um grupo de proteção animal (Uniendo Huellas), e já foi várias vezes retirado da porta da clínica e levado para adoção por várias famílias. Inútil. Sempre foge e volta ao local em que seu dono o deixou. A imprensa da região não se cansa de cobrir o fato. Até página no Facebook Alicio já tem (criada por um grupo de fãs). O cão dorme num depósito da clínica e a doutora Alicia Delgado o “adotou” como se fosse um “filho postiço” (daí o nome do cão). Os vizinhos já se acostumaram com ele, sua fidelidade vem chamando a atenção de todos e não faltam reflexões dos estudiosos sobre a amizade canina.
Quando David Wroblewski publicou A História de Edgar Sawtelle (2009), que tem similaridades com a história real de Alicio, muitos acharam exagerada a trama do garoto mudo que leva três de seus cachorros a uma fantástica e perigosa viagem. Wroblewski, 51 anos, ex-projetista de software no Colorado (EUA), mostrou em seu primeiro livro que era do ramo. O livro é um sucesso de público e crítica. O jornal The Washington Post ressaltou em sua análise que o autor produziu um romance generoso “no qual é possível mergulhar, perder-se e, finalmente, voltar à tona, relutante, um pouco surpreso pelo fato de o mundo real ter continuado a girar enquanto você estava encantado”. Já o megaprodutor de sucessos Stephen King disse que o livro não é só mais uma história de cachorros e pessoas, “mas um relato sobre o coração humano e os mistérios que nele vivem — compreendidos, mas difíceis de articular”, e completou: “Eu não releio muitos livros, porque a vida é curta demais. Vou reler esse”. Sem falar na crônica do Publishers Weekly, publicada na época de lançamento da obra: “apoiado no poder esmagador da inevitabilidade do destino, o ritmo da narrativa absorverá inteiramente os leitores até as empolgantes cenas finais”.
A literatura conta com vários livros que narram histórias reais e imaginárias da relação entre cães e pessoas. A de Alicio é só mais uma delas. Ninguém sabe ainda, com certeza, como essa relação de fidelidade é construída, ou quais são as suas motivações. Mas numa época de tão grande distanciamento físico entre as pessoas, saber que nossos cães estão por perto é inspirador, mesmo quando eles ficam e nós vamos, ou quando eles nos deixam ficar sozinhos.
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